NA PENUMBRA DO SONHO
Na penumbra do sonho, separei-me de metade de mim,
despertei, acérrima defensora da vida, a correr contra o
tempo, desejando ver a Primavera reunir-se à manhã da
desilusão, aquela manhã apagada na chuva fria de um dia
de Verão.
A expectativa gorada de sentir de novo o calor dos dias
de paixão era infinitamente maior do que a minha capa-
cidade de recriar o sonho e o dia feito de brisa e flores.
Hoje, recordo os dias grandes e cheios de sol, o Inverno
frio, e até o Outono enraivecido em que palmilhei a tua
pele de fogo, o teu hálito feito de turbilhões de desejo
e a ventania doce das tuas palavras mágicas. Lia-te nos
olhos a verdade pura da essência que lhes julgava conhe-
cer. Nos crepúsculos explícitos do teu toque viajava à ve-
locidade da luz a caminho da tua alma.
Ultrapassei a velocidade da luz e despenhei-me no tem-
po.
Hoje, não sei do meu vício de ti, hoje não sei do meu
avesso nem da minha face. Presa num buraco negro...
Goreti Dias
in “Singularidades
& etc.”
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