TUDO É NORMAL?
É muito cansativo saber do mundo.
O drama do seu conhecimento traz incertezas
às almas inquietas e inflama as mentes,
produz delírios e febres permanentes.
Os noticiários causam náuseas desabridas
em informações repetidamente repetidas.
Nas estações televisivas, cheias de criatividade,
é normal dar tudo igual à mesma hora,
até mesmo a publicidade.
Agressiva sintonia original, a que nada falhe
no cansaço repetido do trivial.
Assim nos vão habituando e no porvir,
será muito trabalhoso evoluir.
E não há que reparar, tudo é normal.
Terras e montes outrora sossegados
são pomares plantados a dar frutos errados.
É normal andar de faca ponta-e-mola
ou viajar munido de pistola.
E, por qualquer coisa, tudo ou nada,
atacar a tiro ou à facada.
Agora é tão normal ser-se malcriado,
passou, decerto, a ser um novo fado.
E para cúmulo das minhas esperanças
é normal abusar de velhos e crianças.
No inovado modo de não se refletir,
o desequilíbrio que nos habita, como gerir?
Se a desordem no mundo é um sentido
não sei mais o que penso ou o que digo.
Talvez, por muito estranho que pareça,
seja normal ficar maluco da cabeça!
Filomena Fonseca
in “Coletânea Galeria
Vieira Portuense 2019”
lido por Paula Nisa
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