GLOSA DE GUIDO CAVALCANTI
"Perchi' I' no spero di tornar giammai"
Porque não espero de jamais voltar
à terra em que nasci; porque não espero,
ainda que volte, de encontrá-la pronta
a conhecer-me como agora sei
que eu a conheço; porque não espero
sofrer saudades, ou perder a conta
dos dias que vivi sem a lembrar;
porque não espero nada, e morrerei
por exílio sempre, mas fiel ao mundo,
já que de outro nenhum morro exilado;
porque não espero, do meu poço fundo,
olhar o céu e ver mais que azulado
esse ar que ainda respiro, esse ar imundo
por quantos que me ignoram respirado;
porque não espero, espero contentado.
11/6/ 1961
Jorge de Sena
in “Miguel Veiga - Os
Poemas da Minha Vida”
lido por Céu Guedes
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