sábado, 28 de setembro de 2019

MAS PORQUÊ?



MAS PORQUÊ?

Estenderam sobre ti um pano preto
E enlutaram com sangue a tua luz
Torre viúva dos amantes em noivado
Escorraçados pelo gelo do terror ignóbil
Amedrontados pelo estertor das bombas
Pelo furor cego desses homens suicidas.

Imolaram as crianças como cordeiros sagrados
Em nome de um deus que mata
Não deixam viver a paz.

E as crianças num grito rouco coletivo
A balbuciar palavras pai mãe que é isto?
Temos medo de morrer foge pai foge mãe
E o terror a avançar em onda gigante.
Orfandade é triste viuvez pior sangue resolve
Matam-se então todos crianças também
Ninguém fica para contar ninguém viu
Esta história não se escreve só se vive.

A imprensa vai também cadáver identificado
Tem crachá de jornalista e olhos de delator
Não interessa ficar vivo e não dá jeito que fale
Muito menos que publique, que escreva, que denuncie.

Quem sabe a história morreu sobrevivam os heróis
Assassinos desgraçados uma escória mundial
Que grassa por toda a parte e não poupa a torre Eiffel
Que rasga aquele estandarte da LIBERDADE dourada
Da IGUALDADE entre os homens subjugados é que não
Da bela FRATERNIDADE que agoniza nos destroços
Valores da Revolução pertença só dos franceses
Que agora arquivam os sonhos salvam a vida a morrer
Tinta de sangue resolve: matam-se todos
E as crianças também.

Aida Duarte
in “Ventos do Norte”
Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa - Antologia Poetica II

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