terça-feira, 13 de agosto de 2019

NEM AVE



NEM AVE

Nem ave, nem nuvem
Aragem que seja
Atravessam este meu céu
Macio
Desanuviado
Repleto
Só de mim.

Há no ar um abraço
De madrugada fresca
Lavada e doce
De rapariga.

Há em ti
Uma ternura sem tempo
Mas com rosto
Despida
Solta.

Deixa-me ouvir
Da tua boca
As palavras que calas
E me dizes
Num abraço cingido na cintura
Devagar
Forte
Tranquilo
E calado.

Será festim adiado
O calor com que me abraças
Pelo lado de cá
Da minha festa vazia
Da minha história acabada.

E tu caminhas
Do lado de lá de mim
Tranquilo
Seguro
Sem o rubro das manhãs
Sem passado nem agora
Sem o frio desta noite.

Sabes bem
Que me trazes ao colo
No calor com que me abraças
Do lado de cá
Onde o frio se desfez.

Aida Duarte
in “Limpidez Ausente”

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