NEM AVE
Nem ave, nem nuvem
Aragem que seja
Atravessam este meu céu
Macio
Desanuviado
Repleto
Só de mim.
Há no ar um abraço
De madrugada fresca
Lavada e doce
De rapariga.
Há em ti
Uma ternura sem tempo
Mas com rosto
Despida
Solta.
Deixa-me ouvir
Da tua boca
As palavras que calas
E me dizes
Num abraço cingido na cintura
Devagar
Forte
Tranquilo
E calado.
Será festim adiado
O calor com que me abraças
Pelo lado de cá
Da minha festa vazia
Da minha história acabada.
E tu caminhas
Do lado de lá de mim
Tranquilo
Seguro
Sem o rubro das manhãs
Sem passado nem agora
Sem o frio desta noite.
Sabes bem
Que me trazes ao colo
No calor com que me abraças
Do lado de cá
Onde o frio se desfez.
Aida Duarte
in “Limpidez Ausente”
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