SONETO DE INTIMIDADE
Nas tardes de fazenda há
muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo
pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o
peito nu de fora
No pijama irreal de há
três anos atrás.
Desço o rio no vau dos
pequenos canais
Para ir beber na fonte a
água fria e sonora
E se encontro no mato o
rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue
em torno dos currais.
Fico ali respirando o
cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois
que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma
mijada ferve
Seguida de um olhar não
sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem
comoção nenhuma
Mijamos em comum numa
festa de espuma.
Campo Belo, 1937
Vinicius de Moraes
in “Livro de sonetos”
lido por Amândio
Vasconcelos
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