Em 13 de Junho de 1888,
nasceu o GÉNIO.
CARTA A PESSOA
Meu caro Fernando
É de lodo e nódoa este
país que vejo
Babado e sabujo
gastando-te o nome
Despudoradamente
Remexem-te a arca
acordando os silêncios
De todos os teus versos
outrora negados
E não deixam mais que
descanses em paz
Os ossos cansados e essa
tua cirrose
Tão laboriosamente bebida
e consentida
Desnudam-te a alma, as
cartas, os sonhos
E os desesperos que
sozinho viveste
Nas sombrias paredes de
humílimos quartos
Dissecando as contas que
nunca pagaste
Ávidos de nome, e para
darem nas vistas
Rasgam-te as ceroulas que
nunca despiste
Para a tua Ofélia que
amaste demais
E outorgam-te paixões
individualistas
E honro-fatais
E certos ratos de
bibliotecas pardas
Exauridos de raiva e de
ciúme indispostos
Quase negam as quadras
grandiosas e simples
Com que o povo te lembra,
te soletra e canta
(tu que foste poeta para
todos os gostos)
Sequiosos de fama, e de
dinheiro famintos
Masturbam discursos sobre
o teu passado
E esfregam-se nas praias
do teu frágil corpo
Curvado à angústia de
tanto desprezo
E à febre de um sonho
etilizado
E tudo isto, Fernando,
por que nunca te amaram
Nem compreenderam que no
verso mais triste
Escuro ou sombrio que te
acontecia
Palpitava inteira,
universal e pura
A razão de ser da poesia
Por uma vez, agora,
levanta-te Fernando
Levanta-te do túmulo e
vem cuspir-lhes na cara
O teu sorriso inquieto,
descomunal e mudo
Mesmo doente e bêbado
Esclerótico e tudo
Fernando Campos de
Castro
Lido por Alzira Santos
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