terça-feira, 25 de junho de 2019

CANÇÃO DE VIANA



CANÇÃO DE VIANA

Eu sou de Viana cidade.
Eu sou de Viana que é vila.
Sou de Viana e sou da aldeia
Sou do monte e sou do mar.
A minha terra é Viana!
Quem diz Viana, diz Cerveira,
Quem diz Cerveira, diz Arga…
— Só dou o nome de terra
Onde o da minha chegar!

Dancei a Gota em Carreço,
O verde Gaio em Afife
(Dancei-o devagarinho
Como a lei manda bailar!)
Dancei em Vile a Tirana
E dancei em todo o Minho
E quem diz Minho, diz Viana…"

Ó minha terra vestida
Da cor da folha da rosa!
Ó brancos saios de Perre
Vermelhinhas na Areosa!
Virei costas à Galiza;
Voltei-me antes para o sul...
Santa Marta! Trajo Verde...
Como o povo era poeta
Àquele trajo (tão verde!)
Deram-lhe o nome de azul...

Virei costas à Galiza...
Voltei-me antes para o mar...
Santa Marta! Saias negras...
Mas como o povo é poeta
Aquelas saias tão negras
Têm vidrilhos de luar!

Virei costas à Galiza...
Pus-me a remar contra o vento...
Santa Marta! Saias rubras...
À Santa Marta, vestida
Da cor do meu pensamento!

A minha terra é Viana,
São estas ruas compridas,
São os navios que partem
E são as pedras que ficam...
É este sol que me abrasa,
Estas sombras que me assustam...
A minha terra é Viana.

Ai! este sol que me abrasa
E estas sombras que me assustam!

Pedro Homem de Mello
in “Manuscritos Inéditos”
lido por Ester de Sousa e Sá

Sem comentários:

Enviar um comentário