sábado, 25 de março de 2017

O MISTÉRIO DA POESIA


O MISTÉRIO DA POESIA

Eu sei que há um mistério
escondido no interior da poesia
e que esse mistério é infinitamente pequeno,
de tal modo que só as leis da física
terão o atrevimento de tentar explicá-lo.
Uma vez fui com o meu pai
fazer uma viagem no comboio-fantasma
e acho que vi, num dos túneis,
o mistério da poesia, ou coisa que o valha.
Será que devo chamar-lhe apenas fantasma?
Tinha os olhos claros de Rimbaud,
a imponência guerreira de Victor Hugo
e a timidez poliédrica de Fernando Pessoa.
Foi então que ouvi uma voz a dizer-me:
"Se deixares que eu te toque,
ficarás para sempre enfeitiçado."
Hoje, acredito que tudo isto foi
muito mais do que uma fugaz alucinação.
Nessa noite escrevi versos torrenciais
como se tivesse adoecido e delirasse
e na manhã seguinte, recordo-me,
acordei com uma estrela branca na testa.
Que ninguém ouse dizer-me agora
que não era essa a marca do mistério da poesia.

José Jorge Letria

Lido por Rosário Lemos

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