VIDA EM PROGRESSO
Numa aldeia triste e monótona
Rodeada de flores à sua volta,
Onde o pão era tirado
Com suor e arado.
Um automóvel com um sujeito chegou,
Toda a gente se admirou,
Olharam para ele com cara de espanto
Como fosse deus ou um santo.
Só se ouvia então dizer:
- Uma fábrica vinha trazer.
Toda a gente comentava
Que uma nova vida começava.
Vendem-se os terrenos para a construção,
Ficando só com suas casas para habitação.
Já toda a aldeia à fábrica pertencia,
Tirando tudo a esta pobre gente empobrecida.
Crescia, crescia, com todo o seu esplendor
A fábrica que todos construíam com amor,
E assim trocaram a charrua e o arado
Por 8h de trabalho e um ordenado.
A princípio tudo ia bem já se previa!
A água do rio estava enegrecida,
Um fumo escuro a sobrevoar
E os cereais a secar.
Já nada se produzia
Pois tudo morria.
O vinho, batatas, o seu alimento,
Agora tudo era desalento.
As pessoas sentiam-se doentes
Já com um pouco de raiva nos dentes,
Mas só muito tarde viram
Que tudo e todos à fábrica pertenciam.
A mercearia, a farmácia, o vendedor, o padeiro
A casa de jogos, as suas vidas, seu dinheiro.
Então viram como eram felizes
Na sua vida antiga, nas suas raízes
E choravam de amargura
Contra esta tortura
E todo este processo,
A que chamam progresso.
Mário Anselmo
in “O Silêncio das
Palavras”
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