Forjador aprumado
Para o ferro bater.
Espera-lhe o cansaço,
No dia a correr.
A ventoinha gira,
A máquina fala,
Presa ao rodado dentado,
Para cantar um triste fado.
Bate que bate,
Mergulha e vê.
Ferro escaldado
Que nem vermelho está,
Bate que bate,
Mas assim não dá.
E então, a fouce é lisa,
Precisa de dentes para comer,
Tive de os dar, para a palha cortar
E o outono a correr.
Mói que mói, pica o rodado,
Bate que bate,
Porque para o picão picar
Tem de ser afiado.
Aperta a tenaz,
Solta a aldrava,
Perdeu a língua,
Não fixa nada.
Puxa que puxa,
Manobra achegadeira,
Aconchega o carvão,
Alimenta a combustão,
Surge a chieira.
A correia está larga,
Chega-lhe água,
Para o couro atesar,
Assim não dá, falta-lhe ar.
Pica a fornalha,
Para o animal correr.
É meio-dia e tal,
Quero comer.
Malha a bater,
O suor a largar
E a mãe a correr,
Para fazer o jantar.
O bracito cansado
E a hora a passar,
Sem ninguém a ver
Mas que triste fado,
Até morrer.
A máquina resmunga,
O cadeado enferrujado,
Chega-lhe óleo,
Amotolia sumiu,
E desta vez: puta que a pariu.
João Bernardo
Sem comentários:
Enviar um comentário