quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O FORJADOR

O FORJADOR

Forjador aprumado
Para o ferro bater.
Espera-lhe o cansaço,
No dia a correr.

A ventoinha gira,
A máquina fala,
Presa ao rodado dentado,
Para cantar um triste fado.

Bate que bate,
Mergulha e vê.
Ferro escaldado
Que nem vermelho está,
Bate que bate,
Mas assim não dá.

E então, a fouce é lisa,
Precisa de dentes para comer,
Tive de os dar, para a palha cortar
E o outono a correr.

Mói que mói, pica o rodado,
Bate que bate,
Porque para o picão picar
Tem de ser afiado.

Aperta a tenaz,
Solta a aldrava,
Perdeu a língua,
Não fixa nada.

Puxa que puxa,
Manobra achegadeira,
Aconchega o carvão,
Alimenta a combustão,
Surge a chieira.

A correia está larga,
Chega-lhe água,
Para o couro atesar,
Assim não dá, falta-lhe ar.

Pica a fornalha,
Para o animal correr.
É meio-dia e tal,
Quero comer.

Malha a bater,
O suor a largar
E a mãe a correr,
Para fazer o jantar.

O bracito cansado
E a hora a passar,
Sem ninguém a ver
Mas que triste fado,
Até morrer.

A máquina resmunga,
O cadeado enferrujado,
Chega-lhe óleo,
Amotolia sumiu,
E desta vez: puta que a pariu.

João Bernardo

Sem comentários:

Enviar um comentário