II
Quem foi que gritou?
Foi a carga.
Quem foi que ardeu?
Foi a carga.
Quem foi que explodiu?
Foi a carga.
Quem foi que desapareceu?
Foi a carga.
A carga consumiu as forças
últimas dos braços e das pernas ardendo
últimas dos olhos vítreos e das mãos queimadas
últimas dos gritos consumidos pelas chamas
últimas da suruma nos hiatos de agonia.
Oh, a carga libertou as forças todas nos porões
ao som dolente das ondas e da brisa dos palmares
com o casco mordendo as rochas duras
e ao ritmo desmaravilhoso do tropel dos vivos no convés
a mercadoria partiu as unhas
sangrou as mãos na miragem do portaló
e renunciou sem ver a quelimanense
verde paisagem prometida.
José Craveirinha
in “Xigubo”
lido por Goreti dias
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