terça-feira, 25 de junho de 2019

AS MÃOS E OS FRUTOS (XXIX)



AS MÃOS E OS FRUTOS (XXIX)

Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a luz -é perfeita e mais doirada
e há uma fonte crescendo no silêncio,
da boca mais sombria e mais fechada.

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha onde meus olhos bebem
fundo, como quem bebe a madrugada.

Eugénio de Andrade
Lido por Regina Bacelar

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