SABOR
Não me peçam poema sem sabor, não!
Da minha mão
o poema é arrancado como quem tira um dente
o meu hálito exala a incerteza do verso
e a palavra na minha boca
arrasta consigo a dúvida quanto ao futuro.
Resta-me prosseguir e caminhar
apertar os dentes até parir esta dor
o meu poema nasce e vem carregado de gindungo,
os meus lábios sopram a palavra
como se fosse arame farpado
e chegará à terra como chispa temperada pelo sal.
O meu poema traz o sabor amargo das urtigas
e a terra que lhe dá corpo
é terra mexida e remexida pela mentira,
e dela brota a mão do diabo
que mexe e remexe nos versos, nas rimas
até que a palavra se esgote e a garganta definhe.
Agora morro de saudade
e a terra que me deu sustento e me trouxe o mar
seca o meu poema
e o país que me deu pão
dá-me agora negação.
Não me peçam poema sem sabor, não!
O meu destino é caminhar sobre fogo
e as brasas que me atiçam
trazem-me a dúvida e a incerteza quanto ao futuro
mas já galguei os himalaias
cheguei à índia, naveguei no ganges
desembarquei na china, fui ao tibete
e o meu poema abraçou o dragão
Angelino Santos Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário