A
MULHER MÃE
A mulher
vazia
Tinha
os lábios gretados pela saudade
Dos
beijos aos seus filhos que o tempo macerou
E
que nunca conseguiu concretizar.
A
mulher estátua
Estava
nua e prenhe de incertezas
Fria
alheia apática aparentemente vencida
Numa
vida mal vivida e em sofrimento.
A
mulher coragem
Tinha
no rosto desfigurado a amargura
E
nas mãos doridas os filhos instituídos
Contados
um a um pelos seus dedos.
A
mulher raiva
Digeria
em silêncio amargo
O
vinagre do sonho o fel da sentença
Que
lhe ditou a opacidade da lei.
A
mulher resignada
Arfava
Com
os nervos acorrentados à flor da pele.
Só
os filhos lhe remexiam a inércia do pensamento
Quando
as noites longas e frias
Teimavam
em não clarear.
A
mulher mãe
Estava
morta por dentro.
Brilhava
apenas em toada intensa
A
pluviosidade mártir do seu olhar
Num
horizonte de certezas
Distante
disforme e entardecido.
António F. de Pina
in “O Amanhecer dos Sentidos”
lido por Beatriz Maia
Sem comentários:
Enviar um comentário