sábado, 26 de maio de 2018

DOUTRINA DE AFECTOS


DOUTRINA DE AFECTOS

Ao som imaginário de uma sinfonia de Bach, a água desenha intemporal bailado.

Matizada de cores frias embebidas de luz, a baixa ribeirinha é poema tocante que se diz com fervor.

Dois arcos enlaçam o casario. A paisagem insinua-se devagar,
até os olhos se perderem na exuberante cascata urbana.
Porto de todas as palavras, poema inacabado que sempre se repete.
Ponto azul delicado à janela das pontes, dobado com os fios líquidos do rio.
Aguarela Isabelina, é nas paredes brancas e sombrias de casas sem idade que se escreve, pela mão do tempo, a história heróica e apaixonante do burgo.
Camilo Castelo Branco, Raul Brandão, António Nobre e Eugénio de Andrade...
enlevaram-no - doutrina de afectos - numa escrita d'água cristalina,
desvendando-lhe vícios e virtudes.

O burgo é menino descalço, de olhos grandes, escuros,
capaz de abraçar a lua, livre, sempre com o rio no pensamento.

José Efe 
lido por Alzira Santos

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