Onde estão em ti os
conceitos os movimentos dialéticos
E num momento o movimento
eterno... é etéreo
Na tua pintura densa ouço
Arvo Pärt
Na tua pintura ouço a
Canção da Terra de Gustav Mahler
E vejo campos de trigo de
batatas e tantos pobres
Tudo isto como se olhasse
Millet
Quando os teus olhos
acendem a noite com lágrimas
Salgadas deste mar com
ondas rendilhadas nasce a cor
A tua pintura tem o
cheiro à terra mãe
Buganvílias adornam teu
rosto como uma Deusa Grega
As tuas flores amarelas
Van Gogh são mulheres em solidão
As tuas flores têm o
perfume inebriante do sândalo
E dor de ser flor é essa
a tua força
Divinamente frágil faz em
ti crescer a paixão pela vida
Os teus olhos dão luz no
escuro da noite mesmo sendo dia
Tu és a raiz da árvore
que me prende à vida
Assim tu lá estás antes
de estares lá e és luz
Tu és a Aurora do meu dia
e fico extasiada por ti em ti
Tu és o esplendor na cor
e a tua mão livre agarra o mar
E és tudo o que não cabe
numa Mulher
Transfiguras o amarelo em
espiga sol e desejo
E a tua mão solta-se e a
tua pintura foge pela tela fora
E a tua mão tão livre
agarra o olhar
Olhar das gentes das
pedras do sol da chuva
Dos rios que fogem e
voltam a ti e assim
Os
Deuses te acompanham
E a poesia feita gesto
E a poesia feita cor
nasce em ti feita Mulher
Sara Uva
Aurora Gaia
in “Antologia de poetas lusófonos VI”
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