quarta-feira, 14 de agosto de 2019

SE TE FALO DO MEU CAMINHO



SE TE FALO DO MEU CAMINHO

Se te falo do meu caminho, abres o teu sorriso
E declaras que a geografia e a irregularidade do meu eu
Não se tece nas teias do tempo que me proponho tecer
Que não devo querer manhãs acetinadas e luminosas
Mas um dia alegre, mas levemente sombrio
Abrindo asas na aridez do descampado humano...

Se te falo do meu caminho, com solicita prontidão
Indicas-me as fragas nas quais vou resvalar,
As torres de marfim que vou ter de conquistar
As casas inabitadas onde em recatada surdina
Exausta de tanta procura inútil, de tanto labor
Eu terei finalmente, sem recusa, que me deitar...

Se te falo do meu caminho, tu que me havias jurado
Para sempre meu percurso também trilhar
Mostras-me as rochas inertes em vias de desabar
As perenes montanhas gélidas e sombrias
O tremer da terra no seu eterno devir
Os rios que as montanhas têm de galgar
E o enorme mapa-mundo colorido e intenso
Onde é difícil meu caminho encontrar...
E a conduta de outrem para a minha orientar.

E eu sozinha rasgo meu sorriso ensanguentado...
E não te negando a inutilidade do que me disseste
Procuro na brancura recatada do meu ser
Tudo que sapientemente me havias negado
Sabendo de antemão não querer serena brandura
Nem a planura que me haviam ofertado
Pois sempre soube que mesmo exaurida
Buscarei em êxtase meu longo véu rasgado...

Acilda Almeida

1 comentário:

  1. Só podemos perceber a direção dos nossos caminhos,quando,ousados,decidimos por nós mesmos,os caminhos a seguir!...

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