E ASSIM SE FEZ MULHER
E o pranto se fez em vinho
Seiva da mais pura videira
E eu bebi o vinho
Provei o mel
Comi os frutos rosáceos
Saboreei a carne
E nada, nada me soube a fel.
Era fruto de tenra idade
Por entre dedos
Espremi cerejas
Torci-me em prazer
Gargarejei o leite
Leite que não era azedo
Carne que não tinha medo
_ Era pão sem fermento
Aflição sem tormento.
Faminto "matei" a fome
Gritei por mim
Chamei-me homem
Bebi o vinho
Não reclamei
E o veludo escorregadio
Senti-o
Nos doces lábios
Por onde a língua passeava
_ E não me fartava
E o fruto ingénuo
Doce e perpétuo
Desfez-se em sumo
Tornou-se húmido
Sem lamentos sem gemidos
E foi comido – depois
Amadureceu
Tornou-se adulto
Ficou maduro
Transformou-se em Eu
E para um qualquer
Tomou-se mulher
18/10/1974
Adolfo Castelbranco
in “Gindungo”
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