terça-feira, 3 de janeiro de 2017

OUVEM-SE NOS BOSQUES


OUVEM-SE NOS BOSQUES        

Ouvem-se nos bosques, gemidos, gritos de dor
No alto da vertiginosa montanha onde prostrado vivia
Orfeu chorando a dupla morte da amada Euridice
Tange exangue sem nada ver as cordas da sua lira;

E as selvagens Menades em fúria atirando dardos
Ali vazam suas iras de mulheres despeitadas
Dardejam seus olhares a sua lira agora exangue
Que não querem mais ouvir melodias entoadas;

E de terno peito rasgado e ensanguentado
Euridice, Orfeu ainda brada em seu supremo grito
Mas levadas de viril ódio, de amor desprezadas
Se vingam logo as cruéis Menadas do que havia dito;

E esquartejado Orfeu, a casta lira arrancada
Abre-se pleno o chão em longo hino deslumbrado
Coléricas crendo sufocar a tão doce melodia
Em prontidão lançam no rio o corpo acutilado...

Mas já espirado Orfeu em esforço derradeiro
Já seus lábios parados, já a sua cor perdida
Faz flutuar no rio Hebro o nome da amada
Para que ainda o ouça em sua voz já partida...


Acilda Almeida

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