OUVEM-SE NOS BOSQUES
Ouvem-se nos bosques, gemidos, gritos de dor
No alto da vertiginosa montanha onde prostrado vivia
Orfeu chorando a dupla morte da amada Euridice
Tange exangue sem nada ver as cordas da sua lira;
E as selvagens Menades em fúria atirando dardos
Ali vazam suas iras de mulheres despeitadas
Dardejam seus olhares a sua lira agora exangue
Que não querem mais ouvir melodias entoadas;
E de terno peito rasgado e ensanguentado
Euridice, Orfeu ainda brada em seu supremo grito
Mas levadas de viril ódio, de amor desprezadas
Se vingam logo as cruéis Menadas do que havia dito;
E esquartejado Orfeu, a casta lira arrancada
Abre-se pleno o chão em longo hino deslumbrado
Coléricas crendo sufocar a tão doce melodia
Em prontidão lançam no rio o corpo acutilado...
Mas já espirado Orfeu em esforço derradeiro
Já seus lábios parados, já a sua cor perdida
Faz flutuar no rio Hebro o nome da amada
Para que ainda o ouça em sua voz já partida...
Acilda Almeida
Sem comentários:
Enviar um comentário