O NATAL DOS POETAS
Numa noite em que nasciam
crianças aos milhares
e outras morriam sem
assistência médica
e outras morriam
brincando com bombas
e outras morriam
esmagadas
por fugitivos automóveis;
numa noite de Inverno,
numa noite de névoa
sobre os barcos sem
equipagem junto ao rio;
numa noite de ruas
desertas e casas fechadas
aos que andavam perdidos
e sozinhos,
três poetas sentaram-se a
uma mesa
e decretaram a paz e a
alegria.
E decretaram a paz
para os que, cabelos
soltos nas mãos das noites frias,
viviam na cidade onde
agora estavam,
respiravam o mesmo ar
e liam as mesmas notícias
dos jornais.
E decretaram a paz
para os que tinham
os olhos riscados pelos
dedos do medo.
E decretaram a paz
para os que traziam
a angústia dos dias
misturada no sangue.
E decretaram a alegria
para as crianças que
estavam nascendo em todo o mundo.
E decretaram a alegria
para as jovens que
sentiam os seios despontar.
Ê decretaram a alegria
para as mulheres que eram
mães.
E decretaram a alegria
para todos os seres.
Foi então que Jesus
Cristo
nascido há quase mil
novecentos e sessenta
anos,
sorriu no céu que cobria
a mesa
onde três poetas se
tinham sentado
para decretar a paz e a
alegria.
António Rebordão
Navarro
Lido por Manuela
Caldeira
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