sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

FICARAM POR DAR


FICARAM POR DAR

Sim, amei-te em grande amor, como só uma vez se ama
Porque em mim pulsava a magia dos roseirais infindos
E o azul timbrado do céu tinha o perfume das acácias
E o mar guardava pleno o eco da voz primordial
E sol que se encrostava nas marés tinha a pujança do renascer...

Foi por isso que quis partilhar em enlevo todas as pérolas
Que secretamente havia guardado só para ti
Que quis render-me ao vento e contar-te as miríades irrealidades
Que juraria terem a autenticidade da pele que cobria nosso corpo
E quis dizer-te que o Tempo não iria desta vez vencer o Amor...

Mas o Tempo emudeceu as palavras que havia para te dizer
E de todos os afetos que prometi um dia contigo dividir
Ficaram apenas cinzas esvaídas no rebordo do eu
E os beijos que tinha para te dar foram dados numa outra boca
E por isso havia neles o travo da ausência e do maravilhar...

Mas de nada me valeu amar-te assim, porque quando jurei
Que no meu corpo não haveria mais o retraçar da irregularidade
Quando havia decidido que não haveria mais o travo de sal
Nos parcos beijos silenciados que já não havia para trocar
E tos quis finalmente dar com as pérolas que havia guardado
Era inútil porque no silêncio da noite em dor extrema
Tu não quiseras silenciar os teus beijos e, sem pérolas para dar
Havia muito que em agoniado silêncio ao mundo decidiras te roubar.


Acilda Almeida

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