I
Quantas
vezes invoquei em vão
a
minha Terra Quente — desde o início
fiel
depositária do meu pó.
Quantas
vezes embebi
afectuosas
adagas
nos
seus flancos mais expostos.
Quantas
vezes cometi
inconfidências,
dolos, falsidades,
jurando
sobre ela,
Dito
doutro modo: elegias,
que
em momentos de extremo desvario
cheguei
a disfarçar de madrigais.
E
ela, sempre generosa, continuou
a
florir para mim, serenamente,
estevas
e arcas no tempo delas.
Aceitou-me
sem repulsa o amor
babujado
de lágrimas
—
o meu método de dar o amor.
E
foi (por esta ordem) bicicleta,
rampa
por onde pedalei até às nuvens
e
enfim as próprias nuvens.
II
Quem
te soubera, minha Terra Quente
—
meu invólucro final, irrecusável
mistura
de sangue e lume e borboletas –
imune
ao explosivo
sopro
com que o tempo nos derruba
um
por um os baluartes de argila!
a.m.pires
cabral
in “Gaveta do fundo”
lido
por Maria Afonso Morais
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