terça-feira, 25 de outubro de 2016

DÓI-ME ESTE FRIO, DÓI-ME ESTE PAÍ


"DÓI-ME ESTE FRIO, DÓI-ME ESTE PAÍS”

Dói-me este frio!
Dá-me um tempo novo a favor do vento,
Dá-me um país com sol,
um país sem este frio,
um país com uma noite
e muitas madrugadas,
um país onde os filhos
beijem os lábios do mar
lábios sem o travo da despedida…
Um país sem nuvens de areia, sem oxalá,
um país por inteiro,              '
um país sem lamentos, em silêncio!
Dói-me este frio
dói-me este tempo que goteja.
Dói-me…
...que os nosso filhos lambam as feridas
e beijem as cicatrizes,
que as estátuas sangrem.
Dói-me o frio de um país perdido
numa lista de espera e esperas em silêncios…
Dói-me o frio que invade
as entranhas e a alma de um povo,
entre mãos vazias e rostos de dor!
Dói-me este frio!...
Dá-me a clave de sol de um hino novo,
dá-me um país com luz,
um país sem este frio,
um país de versos simples e muitos poemas…
Um país sem ruas de melancolia,
sem saudade gravada nas paredes,
ausente de espaços sem lugar;
um país sem dúvida nas verdades,
um país por inteiro,
sem corações em temporal!
Dá-me um país sem este frio
dá-me um país com este frio calado,
dá-me!...
Sonhos embalados nos braços
dos filhos deste país,
sem traços de tempo imóvel.
Dá-me um país com lágrimas
para chorar quando valer a pena!
Dá-me lágrimas de riso
e passos que se guiem pelos sonhos,
um país sem o frio do adeus aos filhos!...
Dá-me um país de Homens sem mentiras…
Dói-me este frio!
Dá-me um país!
Não me dês uma mão vazia
e às vezes ...nada.

António Carlos Santos
in "50 anos, 50 Poemas" (Seda Publicações)

Lido por Alzira Santos

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