quarta-feira, 26 de outubro de 2016

MÁSCARAS


MÁSCARAS

Do teu castelo de altivez desceste
feita águia
— penas azuis a faiscar ao sol —
e abeiraste-te do meu pântano de infortúnio
e mágoa
onde não pudeste mergulhar.

Poisaste à margem,
mas nem sequer ousaste olhar a água
e rever-te
no espelho das palavras que eu te dava.

Delas fizeste pedras
para alevantares um muro
de silêncio
e te esconderes lá dentro dele.
Mais uma vez!

Mas quem sabe ao certo o que é "lá dentro"?

Dentro ou fora é tudo o mesmo.
Na metade de uma laranja
que um diâmetro delimita
poisa a mosca
e, na outra, a aranha.
Quem está dentro e quem estafara?
O que pensa uma da outra?

A máscara que mostramos a quem nos olha
encobre tudo aquilo que nós somos
e aquilo que ocultamos
é o que muitas vezes nos revela.

Quem sabe se nesse peito içado de águia
não se esconde o coração de uma andorinha?

Miguel Leitão

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