EM
FRENTE DO MAR
Pergunto
a mim próprio em que noite nos perdemos?,
que
desencontro nos levou de um a outro lado das
nossas
vidas? e que caminhos evitámos para que os nossos
passos
se não voltassem a cruzar? Mas as perguntas que
te
faço, hoje, já não têm resposta. Sento-me contigo,
nesta
mesa da memória, e partilho o prato da solidão. Tu,
na
cadeira vazia onde te imagino, sacodes o cabelo com
um
aceno de ironia. E dou-te razão: as coisas podiam
ter
sido de outro modo. Não te disse as palavras que
esperaste;
e havia o mar, com as suas ondas, nessa tarde
em
que me puxaste para longe da cidade, como se
a
noite não nos obrigasse a voltar, quando o horizonte
se
apagou a nossa frente. Depois disso, nenhuma
pergunta
tem resposta. O que é absurdo há-de continuar
absurdo,
como o horizonte não se voltou a abrir,
trazendo
de volta os teus olhos que me pediam que
os
olhasse, até que a noite me impedisse de o fazer.
Nuno
Júdice
in “O Estado dos Campos”
(Pub.
Dom Quixote, 2003)
Lido por Manuela Caldeira
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