sábado, 6 de agosto de 2016

MANICÓMIO


MANICÓMIO

Um dia
Quando no meu corpo a natureza se esgotar
e der lugar a outro lugar,
para que haja lugar sem atropelo,
terei uma viagem a fazer
e sem passar por qualquer stop,
estação de serviço ou portagem
farei directa a minha viagem
até chegar ao céu,
porque há dúvidas a desfazer.

Não será uma conversa fácil, acredito,
porque há muita interrogação,
muita dúvida, confusão
na minha pobre cabeça,
muita pergunta a colocar
a quem tudo determina no mundo.

É esse o meu espanto:
Que tudo determina no mundo!

Como nada devo, nada temo,
quando chegar
não me colocarei nem à esquerda, nem à direita,
ficarei de frente, olhos nos olhos
e a cada questão que me seja posta,
responderei com a minha dúvida e ignorância
e da estranheza das coisas que por cá passei:

- Estranho,
por que havendo no mundo sol radioso,
canto dos pássaros, água das fontes,
campos de trigo, rios e montes,
sempre se vive num mundo de trevas,
ao som da metralha e medo nos olhos;

- Estranho,
por que havendo no mundo
tanto pão amadurecer, tanta fruta no pomar
tanta água nos rios e peixe no mar
a fome
seja o alimento de milhões de bocas infelizes;

- Estranho,
que sendo o homem moldado
à semelhança e imagem da divindade;
sendo o homem o único dotado
da certeza, da dúvida… e da razão,
a fórmula seja tão estranha,
que faz da guerra a constante,
do ódio, a variável
e da sede de amor, o resultado!

Que falhou na ciência desse molde?
Foram as mãos? O barro? O cansaço? Talvez… distracção…
ou das contas da matemática!

Ou foi o gozo de transformar o mundo num manicómio,
onde só os criminosos têm o paraíso na terra…
e sempre tão próximo do céu!?

Quando me sentar frente à divindade,
são estas e não outras as perguntas a fazer.
e estou-me nas tintas
para o pequeno pecado que cometi ao longo da vida.

Se não gostar,
se não gostar da minha ousadia,
das minhas dúvidas, ignorância e rebeldia
o pior que me pode acontecer
é dar-me como penitência
o regresso ao manicómio.

Talvez,
depois desta conversa,
um novo molde, um novo chip
um novo homem possa regressar,
um novo exército exercer,
a fome vire anedota,
a guerra, peça de museu,
o ódio, coisa para esquecer
o amor, a arma de arremesso
e um novo mundo… possa florescer.

Talvez,
depois deste reparar
a divindade possa descansar.
Talvez!

Angelino Santos Silva

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