NO
TEMPO DAS CEREJAS
Regressei
a ti no tempo das cerejas.
Mas
não havia cerejas:
as
cerdeiras floriram cedo demais
e
caíram as flores
como
a vida bela e efémera dos samurais.
Sabes,
amor, no Japão,
vive-se
a festa da floração
com
que se fecha a porta ao inverno.
E
todos se rendem ao encanto
das
Sakuras* cor de rosa
comovendo
parques e jardins
para
morrerem pouco depois...
Tão
frágeis como a vida
tão
frágeis como os amores
tão
frágeis como nós dois!
Também
tu
não
estavas lá quando te procurei.
Seria
um tempo de maturação
no
inverno da nossa melancolia...
Afinal,
já não conseguia beijar o teu corpo
redondo
e sumarento como as cerejas
como
tantas vezes fizera!
E
eu queria a seiva, a cor, o suco dos primeiros tempos!
Mas
alguém, na minha ausência,
te
colheu
e
perdeste a inocência
do
retrato
com
teus brincos escarlate
com
que emolduras ainda o meu pensamento.
Olhas
para mim
e
aos veres-me assim tão perdido
dizes-me
com ar já atrevido
que
o tempo já não é o que era!
E
aqui, ou no Japão,
talvez
haja cerejas muito antes da primavera...
*flor da cerejeira
Junho 2013
Ana Margarida Borges
in “Já
Não Moro Aqui”
lido por Manuela Caldeira
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