quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

PORTO-CIDADE


PORTO-CIDADE

Cidade tenaz liberta
em tons de cinza desperta
cidade mitológica
lugar de cântico e penumbra
de vaga-lume e presépio
uma espécie de trajar
da cor dos dias saudosos
onde a própria mocidade
se tinge de novidade.

É dum povo que se chama
invicto, leal, alegre
mas tem húmidos os olhos
na ajuda desinteressada
é dum rio de mudança
que em cada curva apertada
muda de tom na esperança
muda de cor na levada.

E de gente destemida
que outrora se deu à luta
naquilo que acreditava
ser justo, em justa medida.

Nas suas ruas severas
mordidas pela canzoada
gastou-se a pedra mourisca
e o azulejo deveras
e houve fogo artifício
e homens de bom ofício
e ofícios de homem bom
e música de acrobacias
varandas aristocratas
e pregões, vivas e morras.

Em cada festa surgia
o riso bem popular
a piada e a alegria
e a sede bem regada
estrondosa e tutelar.

E um respeito que se impunha
aos senhores do respeito
que mereciam esse povo
cujo viver de virtudes
era o arrojo e a coragem
solicitude e desvelo
muita chuva e pouco frio
e um luar lindo portuense
namorados a escondê-lo

Ó Porto da erva cidreira
da broa e da sardinha
da minha Tia tabaqueira
da Faustina que é vareira
dos cominhos, do tomilho
da hortelã e do meu filho...

Fernando Morais

in Um Estalo na Modorra

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