quarta-feira, 21 de outubro de 2015

AS ALTAS JANELAS DO NORTE

AS ALTAS JANELAS DO NORTE

As altas janelas
do Norte
pedem sol
um pouco mais
do escasso sol
do Norte.

Namoram
em silêncio
o avarento
céu
e pedem
um rasgão azul
no seu lençol
cinzento
um traço breve
do silêncio ao Sul
um pouco mais
de sol
e menos neve
e vento.

As altas janelas
do Norte
enfrentam a borrasca
encostadas ao granito
e quando a voz
se solta
o bruto grito
faz tremer a terra.
A sua guerra
é gota a gota
disputada
entre o tronco de pinho
a gemer na lareira
e a manta passageira
da geada.

Mas um dia
Junho chega
de mansinho
desatando
a cor do vinho
desvendando
a madrugada quente
a espreguiçar-se
pelas paredes
e então
as altas janelas
do Norte
recebem de par em par
o Verão
o som do cavaquinho
a festa das perdizes
e sentindo saciada
toda a sede
são felizes
entre verde
e verde
e verde.

obras de José Fanha
in “Eu sou português aqui”

Lido por Lourdes dos Anjos

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