quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

UMA DÚZIA DE PÁGINAS DE POESIA DE FERNANDO MORAIS


UMA DÚZIA DE PÁGINAS DE POESIA DE FERNANDO MORAIS

Somos nós os últimos da Europa?
Porquê?

Será por causa dos governantes que temos?
Será porque os Doutores, Engenheiros, Diplomatas, Banqueiros
são portugueses?
Mas os homens do Dinheiro não têm nacionalidade, nem Pátria.
Será porque os padres, freiras, dirigentes do futebol,
os correios, a televisão, os comboios, o cimento,
estão sem pátria como os donos dos hotéis, das estradas,
como os locutores, os patrões das Câmaras, das Juntas,
como os agentes funerários, os hiper-mercados, as polícias
e as clínicas privadas?
Os gestores comerciais que temos
os ladrões e as ladras que temos
os árbitros e outros juízes que temos
o juízo que já não temos
as pensões e restaurantes que temos
os telefones públicos que temos
os mestres de obras que temos
os sindicatos amarelos que temos
os fulanos dos impostos “carneiros” que temos
as senhoras das finanças, as “pífias” que temos
e todos aqueles que roçam as costas nas ante-câmaras
e os cotovelos nas secretárias, as meninas nuas
a mexerem as pernas nos palcos que temos
e os ministros que temos agora e alguns dos outros
que já tivemos… só têm esta prática porque ainda não roubaram o suficiente
para mudar de país

                                   Diz-se, porém, que já fomos bons em muita coisa:
Tínhamos o melhor azeite do mundo
o melhor trigo, quando a farinha vinha de Espanha
com sete dias de camião frigorifico…
Tínhamos o sol mais lindo do Mundo
e a Rosa Mota a fugir da polícia era imbatível
o Vinho mais bem tratado e envelhecido
As aldeias mais catitas do planeta
a água mais benéfica da Europa, as tangerinas e as castanhas
o luar, a poesia, e ou touros que não morriam na arena
Tínhamos o fogo preso, a cor das flores,
os frutos verdadeiros, a língua da sogra e os pastéis de Belém,
os tremoços de alguidar, as amendoeiras em flor,
os bonecos de barro, o cagão e o pescador, o frade das caldas,
o Zé Povinho, os azulejos parolos: se queres fiado: toma!
O medronho, as cavacas, as ginginhas pela manhã,
O pão de ló, as barricas de ovos moles,
a sardinha assada as pagelas da comunhão os terços de alfarroba,
os garnizés, os moliceiros, o presunto de Lamego,
as cantigas ao desafio, o barco rabelo, as tasquinhas do porto,
o granito da Madalena, o “carvalho” das caldas
o carlinhos da Sé, os Zés Pereiras, as procissões cantadas,
as bandas de música no jardim, o estilo manuelino,
o Vasco Santana e o Hóquei em Patins…
Mas isto tudo nunca soubemos enaltecer o que tinha de beleza simples
de original                  e Agora?
somos os últimos de quê? Da Europa da droga e da promiscuidade
política? Agora atiram-nos com um osso roído
e uma côdea de pão seco ressequido
e olham-nos como dantes nós olhávamos para os pretos…


Fernando Morais

Sem comentários:

Enviar um comentário