quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

ÍTACA


ÍTACA

Quando abalares para Ítaca,
faz votos para que seja longa a viagem,
plena de experiências, plena de aventuras.
E quanto aos Lestrigões, aos Ciclopes
Ou ao irado Poséidon não os temas
Nunca tais seres verás no teu caminho,
se elevado for o teu pensar e límpida
a emoção do teu espiríto e do teu corpo.
E nem os Lestrigões, nem os Cíclopes,
nem o fero Poséidon jamais encontrarás
se na tua alma os não levares
e diante de ti a tua alma os não puser.

Faz votos para que seja longa a viagem.
Que sejam muitas as manhãs de verão
em que o prazer te invade e a alegria
ao entrares em portos nunca antes vistos.
Detém-te nos bazares fenícios
a marcar os mais belos artigos:
madrepérola e coral, âmbar e ébano,
perfumes deliciosos e variados
- investe o que puderes em perfume
tão sensuais e delicados quanto houver.
Vai
a muitas cidades do Egipto e aprende,
avidamente aprende com os sábios.

Ítaca guarda-a sempre na tua mente.
Lá chegarás, é esse o teu destino,
mas a viagem, nunca a apresses.
Melhor será que muitos anos dure
e que, já velho, aportes à tua ilha
rico com tudo o que ganhaste pelo caminho
de Ítaca não esperando riquezas.
Deu-te essa bela imagem. Ítaca. Sem ela
nunca te terias feito ao caminho.
Não tem, porém, nada mais para te dar.

E se pobre a achares, não te enganou.
Tão sábio te tornaste e tão experiente,
Que finalmente perceberás o que as Ítacas são.

Versão a partir da edição da edição espanhola: “75 Poemas
de Konstandino Kavafis. Ed. Visor, 1973, trad de
Lázaro Santana

Lido por António Cardoso

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