(se) senta.
sentei-me ao meu lado
desde o dia em que deixei
de ter idade.
ainda ontem
ainda ontem, sim
ouvia a voz da minha mãe:
-- zinha, apaga a luz!
resignada obedecia
privando-me do prazer da leitura
ainda ontem…
as horas passaram
os dias passaram
semanas e meses correram
os anos voaram e não
contei os amanheceres perdidos
os sonhos desfeitos
nos espantos engatilhados
nas curvas da mentira
nas curvas da verdade
que distorciam a voz da
humanidade
(se) sentia.
sentei-me ao meu lado
engolindo a crua
realidade do corpo que habito
e por um instante breve
vi a criança
no reflexe baço do
espelho do passado
a acarinhar a poesia
com palavras inocentes
fustigadas de ausências
ainda ontem
ainda ontem…
Teresa Gonçalves
in “Umbrais do Tempo”
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