FAZ-SE O SILÊNCIO PEDRA
ANGULAR
Faz-se o silêncio pedra
angular em árvores vivas carentes de sol e
palavra. O tempo desce
vertiginosamente a caminho do sepulcro
entre pedras trajadas de
verde. O esplendor do sol resseca o musgo
pleno de viço e cava o
fosso entre o morto e o vivo. O vivo cada vez
menos vivo, a caminho de
morto.
A vida não se queda pelos
silêncios magoados. Afoga-se matinal-
mente nas palavras
proibidas e não ressuscita nas palavras reapren-
didas. Subjugam-na todas
as esquecidas.
Hoje, não quero plantar
outras palavras ou outros nomes. Quero
apagar o sol que
cruelmente ilumina todos os silêncios! Porque os
silêncios matam a lua, o
caminho, a fé… Todas as intempéries dis-
pensam chapéus-de-sol!
Mas, hoje, o cabelo do vento lança gelo de
encontro às vidraças que
escorrem solidão. Inexorável e desabrida-
mente negra.
Goreti Dias
in “A Arte pela Escrita”
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