terça-feira, 28 de outubro de 2014

FAZ-SE O SILÊNCIO PEDRA ANGULAR



FAZ-SE O SILÊNCIO PEDRA ANGULAR

Faz-se o silêncio pedra angular em árvores vivas carentes de sol e
palavra. O tempo desce vertiginosamente a caminho do sepulcro
entre pedras trajadas de verde. O esplendor do sol resseca o musgo
pleno de viço e cava o fosso entre o morto e o vivo. O vivo cada vez
menos vivo, a caminho de morto.

A vida não se queda pelos silêncios magoados. Afoga-se matinal-
mente nas palavras proibidas e não ressuscita nas palavras reapren-
didas. Subjugam-na todas as esquecidas.

Hoje, não quero plantar outras palavras ou outros nomes. Quero
apagar o sol que cruelmente ilumina todos os silêncios! Porque os
silêncios matam a lua, o caminho, a fé… Todas as intempéries dis-
pensam chapéus-de-sol! Mas, hoje, o cabelo do vento lança gelo de
encontro às vidraças que escorrem solidão. Inexorável e desabrida-
mente negra.

Goreti Dias
in “A Arte pela Escrita”

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