quinta-feira, 27 de março de 2014

O FRASCO DO REMÉDIO


O FRASCO DO REMÉDIO

Pipertox
- Vai filho à venda do Albano
Comprar remédio das bichas
Para o teu irmão.
A aldeia estava pousada na escuridão
Com um breu que se desprendia
Da abóbada.
O rapaz ladino: - Oh! Mãe como é o nome?
- Pipertox! Pipertox!
E lá foi a soletrar a palavra, saindo
Porta fora, pela noite dentro.
Na venda do Albano os camponeses
Bebem os últimos copos do dia…
- Que queres rapaz – Pipertox para o meu irmão.
Satisfeito por se ter recordado o nome e ter
Na mão o pedido de sua mãe.
- Não pagas?
O Albano sabia que ia para o livro
- Não Senhor Albano… com respeito e inocência.
Deu um passo até à porta e
Encontrou a escuridão… mas ao lado havia música
Na Sociedade de Recreio de Carreço e ficou a ver.
Ensaiavam o vira, a gota, a chula com bailadores
E bailadeiras com ritmo da música, os corpos saltavam nos seus olhos…
Passou o tempo agarrado ao frasco de Pipertox.
- Que fazes aqui? Voz do seu tio ensaiador.
- Vai para casa que te esperam.
No caminho corria água e de poça em poça
Saltava com as botas de água que seu pai
Usava e serviram para ir à venda.
Na passagem junto aos salgueiros tropeçou numa massa
Informe, coisa mole que não descortinou.
Mais acima, junto à ponte, uma figura apareceu na noite escura:
Bruxa imaginou!... Grito enorme ouviu:
- malannnnndro!
Uma paulada acertou no frasco do Pipertox.
Chegado a casa os irmãos gritaram:
- Está perdido a mãe foi ao teu encontro…
- O teu irmão vai morrer!.,..
Assim perdeu a sua inocência; a bruxa era então sua mãe!
Mas que coisa era aquela massa informe e mole
No caminho onde tinha tropeçado?
- Vai para a cama que amanhã conversamos;
Tinha visto brilhar os cacos do frasco no caminho.
No dia seguinte a conversa era outra, pois a vizinhança estava consternada
Ao saberem que o vizinho que vinha do Albano caiu no caminho e aí ficou
Por ter mais uns copos.
O seu irmão não morreu.
O vizinho é que se finou.

Luís Pedro Viana
in “A Falar de Viana”

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