domingo, 16 de fevereiro de 2020

Isabel Moura



IMPORTÂNCIA

As palavras mais bonitas
são aquelas palavras que,
não podendo ser mais bonitas do que são,
não são mais bonitas do que os gestos
que vêm antes ou depois delas
ou que vêm com elas.

Inventaram os gestos
para confirmarem que
as palavras que são verdadeiras, mesmo sentidas.

"Amor", para dar um exemplo,
é uma palavra que se escuta bem no sussurro
que a pele de um pessoa encosta na pele de outra.

"Amizade", para dar outro exemplo,
é uma palavra que melhor se faz ouvir
com uma simples presença,
no lugar certo,
no tempo certo,
quando alguém precisa de alguém

E há, também, só o silêncio,
e só olhares trocados:
sem palavras nem gestos.

É assim, para além do dizer e do agir,
na ausência de tudo
o que poderia servir para troca
das palavras mais bonitas
ou dos mais nobres gestos,
que diálogo ainda mais bonito existe:
há pessoas, que todos temos,
das quais e para as quais não precisamos
de palavras nem gestos -
o silêncio e os olhares trocados bastam
para o mais belo modo de dizer a uma pessoa
que se gosta dela
ou se sente amor por ela.

Bastam as almas das pessoas, sim.

A alma fala usando silêncios e olhares.
O mais belo gostar e o mais belo amar
vêm da alma, do lugar onde nada se explica
mas onde nada é passível de ser contraposto
ou mensurado
por falta de qualquer dúvida.

Quem gosta e ama com a alma, gosta e ama mesmo!
São assim as amizades
e os amores
de maior certeza e tamanho.
Mas… e a importância das palavras?

Quando inventaram as estrelas,
algumas foram pensadas para serem
presentes embrulhados pela voz.
Quem não gosta de receber presentes assim?
Diga “gosto de ti”
diga “amo-te”.

Quando inventaram as pessoas,
todas foram pensadas
para ouvirem dizer que são apreciadas, desejadas.
Diga “pensei em ti”,
diga “quero-te”.

As pessoas mais bonitas são
as que vestem beleza,
letra por letra, na sua voz;
que no-la vestem no ouvido;
que nos enchem a alma ainda mais.

Declare-se.

Quando se gosta,
quando se ama,
É para se dizer.

Autor - Sérgio Lizardo

Título – “ SEMENTES DE NÃO ACONTECIDOS “

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