sábado, 23 de fevereiro de 2019

Tu só, tu, puro Amor,



Tu só, tu, puro Amor, com tanta força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

As filhas do Mondego a morte escura
Longe tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores!

Luís de Camões
in “Até ao fim do mundo - Poesia sobre Inês de Castro”
Céu Guedes

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