POEMA
DAS ÁRVORES
As
árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam
por ser nada. Pouco a pouco
se
levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo
deitam ramos, e os ramos outros ramos,
E deles
nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois,
por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e
então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e
os frutos dão sementes,
e
as sementes preparam novas árvores.
E
tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem
verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De
dia e de noite.
Sempre
sós.
Os
animais são outra coisa.
Contactam-se,
penetram-se, trespassam-se,
fazem
amor e ódio, e vão à vida
como
se nada fosse.
As
árvores, não.
Solitárias,
as árvores,
exauram
terra e sol silenciosamente.
Não
pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem
os braços como se implorassem;
com
o vento soltam ais como se suspirassem;
e
gemem, mas a queixa não é sua.
Sós,
sempre sós.
Nas
planícies, nos montes, nas florestas,
a
crescer e a florir sem consciência.
Virtude
vegetal viver a sós
e
entretanto dar flores.
António Gedeão
in “Marcelo Rebelo de Sousa -
os poemas da minha vida”
lido por Amândio Vasconcelos
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