PARAGEM
Nas
auto-estradas do sul, à noite, quando se pára
nas
áreas de serviço quase desertas, as empregadas
olham-nos
de trás do balcão com o tédio de quem já
não
espera que lhes peçam alguma coisa. Mas eu olho
para os
restos que se estendem ao longo da prateleira,
atraindo
as moscas e o pó. E pergunto-lhes o que
aconselham,
fazendo com que elas se riam, como
se não
estivessem ali para servir os clientes. "O pão
é de
ontem", diz a que está na caixa. "Não aconselho
o lombo,
nem o presunto", diz a que segura as chávenas
de café,
saídas de uma água escura onde as acaba
de
lavar. E pergunto então o que têm que se
possa
comer. Olham uma para a outra, e perguntam-me
porque
não paro mais à frente. Mas peco-lhes que
me dêem
qualquer coisa que não irei comer, apenas
para as
ver olharem uma para a outra, sem saberem
o que
fazer, enquanto eu, sozinho no balcão da área
de
serviço, me alimento da sua solidão.
Nuno Judice
in “Relâmpago”
lido por Amândio Vasconcelos
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