quarta-feira, 2 de maio de 2018

EU ARRANQUEI CADA PALAVRA



EU ARRANQUEI CADA PALAVRA

Eu arranquei cada palavra
A sua impura mudez
Da sua infausta virilidade
Da sua austera robustez
E em silêncio quedo me dilacerei
E esventrei uma a uma
E as acutilei em elegia
Mas de tudo ficava apenas
O eco profundo e gasto
Um eco sem qualquer brilho
Sobranceiro ao mundo raso
De onde cada uma emergia
Donde cada uma em surdina
Se negava e se escondia
E onde em cantata
Na sua vastidão
Impunemente a sua voz
Levemente soerguia.

E na mudez do papel
Que em silêncio me ouvia
Vi que as palavras coléricas
Se desdobravam em dobras leves
E que as ânsias torturadas
Também não se haviam dobrado
Face às ânsias das palavras.

Acilda Almeida

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