O
MEU NATAL DE ANTIGAMENTE
Quando
era menina não havia Pai Natal nem Árvore de Natal.
Armava-se
o presépio com chão de musgo
rochas
de cortiça virgem ervas a valer pedrinhas de verdade
e
searinhas que se semeavam em pires e latas vazias
no
dia 8 de Dezembro
e
eram o pequeno milagre o primeiro
a
despontar dos grãos de trigo e a crescer todos os dias.
As
criaturas do presépio eram de compra
mas
também moldei algumas em barro fresco.
Uma
vez urna das minhas tias fez casas e igreijinhas de papel
e
acendemos velas lá dentro.
Foi
um deslumbramento a luz a sair pelas janelinhas!
Mas
ardeu tudo de repente.
Desde
então só a lamparina de azeite continuou a alumiar
esse
parco mundo pobre.
No
meu Natal de antigamente havia menos presentes.
Os
meninos não exigiam esses brinquedos extrabíblicos:
computadores,
jogos de computadores, cêdêroms, sei lá.
Nem
o Menino Jesus podia com tanto peso!
Sim,
porque no meu Natal de antigamente era o Menino Jesus
quem
dava as prendas.
Púnhamos,
na véspera, o sapatinho na chaminé
mas
tínhamos que ir para a cama esperar pela manhã
porque
Ele só descia pela calada da noite
se
ninguém estivesse à espreita
(hoje
o Pai Natal não tem esses pudores).
Eu
imaginava-o a saltar das palhinhas nuzinho em pêlo
e
a Nossa Senhora a agasalha-Lo logo com a sua capa.
E
lá ia Ele como um menino pobre/enrolado no casaco do pai
a
contentar todas as crianças do mundo.
O
Pai Natal, esse, foi encarregado (não sei por quem)
de
dar presentes a pequenos e grandes.
Com
o Menino Jesus tudo ficava entre meninos.
E
se a prenda não agradava
a
gente fazia-lhe uma careta
e
até, à socapa, chamava-lhe um nome feio.
O
Pai Natal é um palhaço cheio de postiços:
barba
bigode cabeleira
até
a barriga é uma almofadinha.
.
E
vai à televisão convencer-nos a comprar coisas.
Agora
o Natal antecipa o Carnaval.
O
Menino Jesus, esse não! nunca ia à televisão
(que
para dizer a verdade não existia ainda.)
Mas
que menino de hoje trocaria o seu Pai Natal
(gerente
de um supermercado de prendas)
pelo
meu Menino Jesus a tiritar nas palhas?
Teresa
Rita Lopes
Lido
por Alzira Santos
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