MUSA
PERDILECTA
Quanto
pagais senhor por um broche?
-
ele respondeu: _ Subi para o coche
que
vos vejo formosa e audaz donzela
e
vinde e mostrai dominardes toda 'cela!
Num
supremo gesto, fez sinal ao cocheiro
e
prosseguiram 'caminho do Mosteiro,
ela
insinuante, exalando fresca aragem
pouco
se importando com a paisagem
visivelmente
muito mais interessada
n'amostragem
de dotes de dama prendada.
Que
nome tendes hoje linda princesa
vejo
pelo porte serdes portuguesa
acaso
andais desolada por aí perdida
ou
sentis adentro fundo a alma ferida?
Ela
olhou fixamente o anel com brasão,
uma
coroa d'ouro jorrada pelo chão,
enrolado
manto, quase que jurava real,
e
de pertença D'el-Rei de Portugal.
Meu
nome para vós será apenas Inês
sou
filha legítima de quem me fez
e
s'acaso senhor mais quiserdes saber
digo-vos
que nada tenho pr'oferecer
pois
gastei sonhos vendi a virgindade
caminhava
ainda pela tenra idade...
...mas
senhor descontada 'coscuvilhice
será
crime ou para vós palermice
saber
esta súbdita qual vosso nome
ou
tereis dignificante e nobre cognome?
No
íntimo do meu ser direi por resposta
ser
dono da terra de nascente à costa
palmilho
caminhos de norte para sul
sem
certeza q'o mar sempre se verá azul
por
tal confio ser a água cristalina
como
primaveril me parece a vossa sina
Que
receais dizei-me garboso senhor
porventura
negará que padece de amor?
Por
segurança chamai-me tão só Pedro
de
denominação futura rei sem medo
quando
prevejo 'salão alagado de sangue
e
minha amada prostrada já exangue
Dizeis
que tendes algo a ver com reino!
(pausa)
se
a resposta for silêncio não teimo...
Finde-se
por não ser minh'esta história
nem
adulterá-la me traria mera glória,
e
séculos depois, também por amor morreu
quem
não viu quanto o marido padeceu,
fazendo
dela a sua musa predilecta
reconhecendo
ser o seu único filho poeta.
Cito
Loio
(a
minha prenda de aniversário) 28/10/2017
Lido por Adolfo Castelbranco, Alzira Santos e Manuela Caldeira
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