UM DIA LEMBREI-ME
Um
dia/sentei-me/ lembrei-me do
jogar
à bola/ dar e levar
porrada/roubar
fruta/de ser
perseguido/
à sacholada/ o
lavrador
queixar-se a meus pais e
eu
levar/a dobrar!
Lembrei-me do fugir à
escola/ não
tinha tempo para estudar!
O
professor
dizia que eu era bom
aluno!
Eu faltava por não ter tempo
para os deveres/porque para meu
pai
já trabalhava!
Não havia, ainda, a condenação do
trabalho infantil!! O trabalho/ que
eu
fazia/ para meu pai era do baril/
que em Fátima
vendia/juntamente
com cera/ prós milagres
da santa!
Ena
tantos!
Agora/ parece que menos!
Talvez
por a senhora já um pouco
cansada!/com
quebrantos! Uma
lástima.
Para compensar/continuam
os
grandes milagres das
rezas/ em
terços
e rosários/ para as receitas
de
santuários! Eu trabalhava/
trabalhava/ e já cidades/com ruas
escuras
e claras visitava!
À noite/
estudava/aprendia falas
d'outros povos/ soube
doutras
terras/ doutros costumes/
doutros
deuses/ d'outras
religiões/doutras
filosofias/
das pregações dum só
Deus/mas
logo vi que cada um
tinha
o seu!
Estudava raízes da
criação/
algumas já podres/outras
que
para podres vão/que foram
verdades/ mas agora não!!
porque
feitas
por aldrabões/ em tempos de
escuridão.
Na missa/ o padre
pregava/
pregava!/ Eu não nada
ouvia!
Via que não fazia o que dizia!
Depressa
detestei hipocrisia.
Continuei
a trabalhar/ a estudar/
para
dar asas a meus sonhos/ para
voar/voei!
Por continentes passeei meus
espantos! Fui tronco/dei rebentos/
Fui/
Sou feliz.
Tenho um jardim/com
flores de
filhos e netos e os perfumes de seus
amores e afetos Nada me falta!
Fui
menino/feito homem/
como
rajada de vento/
que tudo eroda e sabe
que/ um
dia/do tudo que foi
ninguém se
recorda/ pois que desertos são
feitos
por montanhas/ em areias
desfeitas!
Um dia, sentei-me/lembrei-me
de
tudo/ de pais/ de amigos
e dos
amores me lembrei!
Agora/sentado/quando
vejo uma
criança/nela me revejo e a ela me
ligo/desejando
que tenha asas/
para que seus sonhos
possam voar/
e que nunca/nunca deixe
ninguém
seus sonhos amarrar!/desejo-lhe
que
levante voo.... e que me leve
consigo.
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Autor: Figas de Saint
Pierre de Lá-Buraque
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