quinta-feira, 26 de outubro de 2017

SENHORA MINHA!


SENHORA MINHA!

Aqui e ali, uma e outra ruga vão aparecendo,
sulcando a nossa pele com o decorrer da idade,
hinos de alegria, de tristeza e cá vamos andando,
uns de felicidade e outros porém de hostilidade.

Perfumados lençóis a cheirar a alfazema,
lembranças de tantas carícias e beijos,
incansável eficiência a dizeres um poema,
tão de mansinho aos meus modestos desejos.

Senhora minha do nosso acolhedor leito,
senhora merecedora dos meus abraços,
coração palpitante a bater no peito,
apertadinha na proteção dos meus braços.

Diz um poema de amor a sussurrar,
fá-lo voar, voar alto nas asas do vento,
sem pressa, pausadamente, tão devagar
que eu possa saborear o momento.

Quanta candura no teu dizer perfeito,
inocência de cor branca como o branco linho,
diz um poema com subtileza ao teu jeito,
como só tu o sabes dizer de mansinho.

Senhora minha virtuosa do meu ser,
faz-me fechar os olhos como antigamente,
diz um poema de amor para eu adormecer,
di-lo com paixão, serena e eficiente.

Outrora, quantas e quantas vezes brincamos,
aos serões, sentados na nossa cama,
vezes sem conta e tanto como nos afagamos,
como os passarinhos no arvoredo entre a rama.

Tenho saudade de tais momentos e foram tantos,
dos longos serões a ouvir a tua doce voz,
senhora minha de todos os meus encantos,
diz um poema, um poema baixinho só para nós.

As rugas não são a minha maior preocupação,
nem sequer a idade a que estamos condenados,
a minha grande preocupação é um senão,
vivermos o resto das nossas vidas preocupados.

A idade vai passando e sempre, sempre a contar,
o novelo da velhice a desenrolar e a ficar sem linha,
agora, vamos andando, andando mais devagar,
tu e eu, vamos andando (…), senhora minha.

(ARTCAR) Artur Cardoso

25-08-2017

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