sexta-feira, 27 de outubro de 2017

EM DESALINHO


EM DESALINHO

Em mim já não pulsa mais o frémito
das coisas por nomear e eu terei de partir
perdidas em meu corpo, como se perde o peixe esbatido
no dorso das vagas, todas as ânsias que me vestiram em segredo…
E quem vier não conhecerá as irregularidades,
os labirintos por onde me perdi, os atalhos por onde me arrisquei
erguendo solene e crepitante a voz que não se emudecia...
Quem vier não conhecerá como me perdi de amores,
como me despi em desalinho, como foram enormes
os sonhos que teci rentes à linha do mar
como enormes foram as noites de solidão e de amor...

Em mim uma outra será quem sou e esquecida
como se tivesse adormecido o vendaval que fazia evolar
o perfume do jasmim, das acácias, da verbena e do tomilho
ficarei esperando.. .talvez alguém venha noite dentro
trazer-me de novo os perfumes voláteis que se haviam dissipado
talvez alguém saiba trazer-me de novo as coisas por nomear
o brilho canforado das estrelas que um dia me trouxeram ousar...
Eu acho que ainda saberei usar o meu longo véu rasgado
E partir de novo buscando tudo num outro lugar...
Mas se não vier também saberei assim estar...


Acilda Almeida

3 comentários:

  1. Muito linda tua poesia ! Com letras reunidas descreves a vida e as paixões! Parabéns!

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  2. Muito linda tua poesia ! Com letras reunidas descreves a vida e as paixões! Parabéns!

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    1. Bela,linda,tem na tua poesia um misto de ausência é um tanto desesperança!

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