quarta-feira, 12 de julho de 2017

HUMANIDADE


HUMANIDADE2

Pétala a pétala.

Os olhos escorregam-me pelos precipícios
molhados de um inverno que teima
em chover

[pétala a pétala]

sobre este chão que me corre nas veias rompendo
a pele da Paz que nos falta. Gritos e gemidos
que ressoam na superfície da Humanidade a dor
que vem do fundo de um sofrimento afónico,
comprimido no âmago de todas as flores do mundo.

E eu choro, pétala a pétala, escrita com hastes de fome
e olhos tristes, uma certa cor que se some na areia
de um deserto sem lugar. Uma rosa dos ventos
partida tentando respirar como se houvesse espaço
nas mãos do tempo para mais um pouco de
esperança. Uma beleza quebrada ao meio
num jardim dividido pelos homens,

pétala a pétala.

Virgínia do Carmo
in “Poemas simples para corações inteiros”

lido por Lourdes Alegria

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