HUMANIDADE2
Pétala
a pétala.
Os
olhos escorregam-me pelos precipícios
molhados
de um inverno que teima
em
chover
[pétala a pétala]
sobre
este chão que me corre nas veias rompendo
a
pele da Paz que nos falta. Gritos e gemidos
que
ressoam na superfície da Humanidade a dor
que
vem do fundo de um sofrimento afónico,
comprimido
no âmago de todas as flores do mundo.
E
eu choro, pétala a pétala, escrita com hastes de fome
e
olhos tristes, uma certa cor que se some na areia
de
um deserto sem lugar. Uma rosa dos ventos
partida
tentando respirar como se houvesse espaço
nas
mãos do tempo para mais um pouco de
esperança.
Uma beleza quebrada ao meio
num
jardim dividido pelos homens,
pétala
a pétala.
Virgínia
do Carmo
in “Poemas
simples para corações inteiros”
lido
por Lourdes Alegria
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