terça-feira, 30 de maio de 2017

POEMA DO ESTRANGEIRO


POEMA DO ESTRANGEIRO

Aponta o estrangeiro com o dedo risonho
as orlas da praia
onde as areias do quotidiano bebem as velhas
[águas.
Vai alegre, o estrangeiro.
Com o alpendre da mão encobre o Sol dos olhos
e indaga à sua volta.
Indaga o longe e o perto, o alto e o baixo, o quieto e
[o turbulento
e ri-se, ri-se muito de contente,
e aprova com a cabeça o movimento das águas.
Alegra-se o estrangeiro
de ver o mais que visto.
É a areia, é o barco, é a gaivota,
é o pano do toldo que esvoaça,
é o Sol que avermelha a face branca,
é a criança em fuga das águas que a perseguem.
E ri-se, ri-se muito de contente
porque a alegria do estrangeiro é o não estar
onde estaria se não estivesse ali vendo a gaivota,
e a areia, e o barco, e tudo o mais que visto,
enquanto a água se evapora na evaporação de todos
[os dias.

António Gedeão
in “Poemas Escolhidos”

Lido por Maria Augusta da Silva Neves

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