POEMA A PINTORA SARA UVA
Acontece arte quando os
teus dedos feitos espátulas
Castigam a tela e as tuas
cores feitas de lágrimas
Sangue terra suor e mijo
como fazia Séraphine de Senlis
Tu tens o mistério da tua
grandeza
Deus ou os Deuses te
guiam
E eu que sou terra fico
aprisionada
Nas tuas telas e... então
sou Gaia
Os teus azuis podem ser
celestiais ou tenebrosos
Os teus amarelos efémeros
quentes ou gritos
Os teus vermelhos de
Tiziano feitos camada a camada
Serão fogo sangue ou
esperança
O cavalgar dos teus
gestos em turbilhão
E eu... olho-te e és
Júlio Pomar nos gestos fragmentados
E quando te deixas levar
por uma prece o teu céu é negro
E cinza e rosa nos
extremos e és Anjo
És um ser alado preso
numa fonte qualquer
Tu és a Ma Femme Bicho de
Arpad Szenes
És barco com as velas
enfunadas
E não sendo parecido
penso na Chalupa de
Amadeo Souza-Cardoso
E não sendo parecido
Penso nos mares de
William Turner
És fruto és maçã camoesa és
peixe azul com pintas
És pássaro levado pelo
vento Suão
És água cristalina és
flor és dor és um tango adormecido
A tua cor tem o calor do
café quente que eu bebo
O espírito da natureza
está na tua cor bela e selvagem
E no momento supremo és
Homem na Mulher que és
O Mundo pode caber todo
nesse corpo tão frágil
Aurora Gaia
in “Antologia de poetas lusófonos VI”
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