DESFECHO
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te...
(Só a negar-te eu pude
combater
O terror de te ver
Em toda a parte).
Fosse qual fosse o chão
da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença
impertinente,
Do teu vulto calado,
E paciente...
E lutei, como luta um
solitário
Quando, alguém lhe
perturba a solidão
Fechado num ouriço de
recusas,
Soltei a voz, arma que tu
não usas,
Sempre silencioso na
agressão.
Mas o tempo moeu na sua
mó
O joio amargo do que te
dizia...
Agora somos dois
obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na
teimosia.
Miguel Torga
in “Câmara Ardente”
Lido por Manuela
Caldeira
Sem comentários:
Enviar um comentário