quinta-feira, 30 de março de 2017

VIESTE COMO ONDA ALAGANDO AS DUNAS


VIESTE COMO ONDA ALAGANDO AS DUNAS

Vieste como onda alagando as dunas
Num horizonte matizado de verdor
Chegaste tão depressa que eu nem tive tempo
De aceitar o maravilhamento que me aturdia
Que eu nem tive tempo de preparar a minha face ruborizada
Para receber a plenitude mágica que me enleava...

Por isso apenas pude inventariar palavras
Com que enganava as palavras que tinha para te dizer
E inerte e cega não vi que te deixava partir...
E hoje que tudo se foi conto os miríades sonhos
Que teci quando julguei que poderias junto de mim ficar
E traço circunferências no vazio do meu estar...

A culpa foi minha que assim me deixei cegar
Foi minha por assim tecer meu amplo acanhar
Por assim inteiramente me deixar ficar...
E agora tenho os olhos presos de não olharem mais o mar
E de ficarem morosamente ancorados no cais
Exaustos de não poderem mais ousar...

Eu sei que as ondas mesmo quebradas ainda rolam
Rente à costa espraiando-se em seu esbracejar
Mas também sei que o que sou está cercado
De rochas que abruptamente se inclinam
Sobre as ondas em seu denso baloiçar


Acilda Almeida

Sem comentários:

Enviar um comentário